sábado, maio 08, 2010

Inclusão não deve ser a *Fórceps*.


ARTIGO
" Inclusão não deve ser a Fórceps".
Há poucos dias li uma reportagem que, como já fazia algum tempo não acontecia, me provocou a uma terceira releitura. Apesar de plenamente desperto e até satisfeito com que o lia, afinal a notícia tratava de uma bem sucedida experiência de trabalho de pessoas com deficiência intelectual numa grande empresa, aquelas palavras sacudiram alguma parte do meu subconsciente e fizeram com que meus olhos estalassem e paralissasem por um momento, mesmo que nessa altura da minha vida os ossos já tenham se adiantado a eles nesse trabalho.
Ainda agora fico pensando se tinha razão para me surpreender com a informação que vasculhava no cristal líquido da tela ou se eu é que estava numa conjunção astral que favorecia o espírito à desconfiança, como num jogo aleatório de astros e posições solares e lunares. Creio que não. Mas, então, por que raios eu vacilara tanto diante de uma notícia desse tipo? Afinal, tudo aparecia certo e inquestionavelmente adequado: a notícia anunciava em tom magnânimo o esforço que se empregara para que aquelas pessoas pudessem estar incluídas naquele ambiente de trabalho, que inclusive parecia ótimo: corredores limpos, móveis novos em folha, funcionários sorridentes.
Já estou tão acostumado a essa ideia de concessão para a inclusão das pessoas com deficiência intelectual que definitivamente, posso assegurar que não foi isso o que me surpreendeu. O que me causou o estalo foi a maneira pela qual a situação foi narrada, o mérito que ainda se dá a iniciativa que visam cumprir um rito social baseado numa representação de papéis. A ideia de incapacidade subjacente ao tom de favor da iniciativa.
A incapacidade do sistema produtivo em incorporar essa força de trabalho sem que seja preciso identificá-la como "trabalho especial", ou pior, "trabalho realizado por pessoas especiais". A bem verdade, pior que o estalo em si mesmo é o seu efeito cascata e a enxurrada de sensações que a leitura é capaz de causar. O lado bom é que isso pode também servir para sacudir (e estalar) um pouco estes ossos aqui.
Fonte: Jornal da Pestalozzi
Edição: março de 2010
Ano XII - Nº 149
página: nº2
Postado por: João Carlos Paulino Paiva

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